O primeiro livro lido na parceria da moinhos a gente nunca esquece, não é mesmo? Meu coração transborda felicidade só de pensar que uma das editoras que mais tem publicado obras que fazem sentido pra mim tenha me notado.
E bom, eu terminei a primeira leitura deliciosa há um tempo, mas como estive na praia, achei que o timming seria o ideal. Em Até que passe um furacão, de Margarita García Robayo, a nossa protagonista deseja ser estrangeira.
Escapar de sua cidade natal e ir morar em outros sonhos. Ela resolveu que não seguiria os destinos que traçaram para ela, mas será que conseguiu?
E isso é muito forte pra mim, porque traz os contornos do desconforto de não se sentir cabendo na própria terra. E eu sempre gostei de partir, de experimentar o deslocamento. E bom, meu avô era piloto de avião, um grande contador de causos e eu sempre achei lindo ouvir suas histórias.
E foi nesse lugar que eu me encontrei como leitora, sentadinha ao pé da poltrona ouvindo as histórias deliciosas dessa mulher que, uau, é muito intensa e sabe bem o que quer.
Nos mostrando os avessos de uma vida insular, longe do continente, onde a pobreza e o descaso dão a tônica de uma realidade precária, desfilam em sua vida homens vazios e ela sabe que precisa se movimentar.
Uma menina que muito jovem foi abusada por adultos e que encontra na vida de aeromoça justamente a saída para a liberdade, o tesão e jogos muito audaciosos para traçar novos caminhos.
Até que passe um furacão é uma novela. curto, intenso, na medida para provocar o leitor e instigar que cheguemos até o fim. Da lama que invade as casas, o cheiro de peixe nauseante até chegar nas viagens de avião que delineiam uma vida de brilho, possibilidades e efemeridade.
Margarita García Robayo tem um jeito muito sincero de escrever: crua e direta nos apresenta essa mulher que pode ser tantas. Gostei.
Há tempos venho lendo autoras colombianas e isso me inspira. Essa literatura que se desloca para as ilhas da colômbia caribenha me enchem o coração de vontade, adoro entender essas singularidades que escapam do lugar comum do que vemos ser a Colômbia.
Acho belíssimo como elas têm me ensinado, mostrado múltiplos olhares para o país e desmistificado muita coisa que eu nem sabia. Foi assim com a maternidade compulsória em A Cachorra, da Pilar Quintana, com a ancestralidade afro-diaspórica, em Os cristais do Sal, da Cristina Bendek ; e é assim com esse pequeno achado que é Até que passe um furacão, de Margarita García Robayo.
Um livro divertido, para desopilar o fígado e ler numa tarde. Não se engane, isso não quer dizer que não haja profundidade, muito pelo contrário, mas a escrita fluida e vai te surpreender.
Sobre a autora:
Margarita García Robayo é colombiana de Cartagena, mas radicada em Buenos Aires. Vencedora do prêmio Casa de Las Américas com Coisas piores, que deve sair muito em breve pela Moinhos. Tem publicado no Brasil também Até que passe um furacão, pela mesma editora e um conto publicado na estupenda Puñado 7, que também conta com uma entrevista da autora. Segundo a Moinhos, a autora Colaborou com várias revistas hispano-americanas e teve sua obra traduzida ao inglês, francês, português, italiano, hebreu, turco, islandês e chinês. Sucesso arrebatador.
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