Em fevereiro de 2022 chegou em minhas mãos um exemplar de Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta?, da querida Elizandra Souza. Publicado pelo seu selo editorial chamado Mjiba, o livro é uma comemoração dos 20 anos de carreira da autora.
Particularmente, sou muito apaixonada por tudo que envolve a Elizandra, não apenas por ver nela uma grande poeta brasileira, que abriu caminhos a tantas outras, mas por reconhecer em sua trajetória a verve de editora, ativista, agitadora cultura, jornalista e produtora incansável de conhecimento. Ela não para. E sim, está tudo ali, neste livro. E ver como ela consegue trazer isso é maravilhoso.
Minha primeira leitura do livro foi rápida, num arrebatamento só, regada num arrebatamento só. Depois vieram outras, mas logo de cara, para quem já é fã há muito tempo, vemos o livro embalado em um belo embrulho com o selo do coletivo Mjiba, importante coletivo cultural de autoras pretas capitaneado por Elizandra. Mjiba, na língua xona, falada em muitos lugares - e em especial no Zimbábue-, significa Jovem Mulher Revolucionária. E este não poderia ser um nome mais perfeito para comportar tudo que ela faz.
Não bastasse a beleza de tudo isso, ainda é possível encontrar impresso nesse embrulho uma das ilustrações de Punga, o primeiro livro da autora. Punga é o nome que se dá, segundo a estudiosa argentina Lucía Tennina, para a umbigada que as mulheres dão ao entrar na roda para dançar Tambor de Congo. Ou seja, Elizandra nos convida, desde o primeiro momento, a ter uma experiência de partilha e de afeto com a sua poesia. É uma experiência sensorial, literária e política. No meu exemplar ainda veio escrito: lembra?
Sim, eu lembro Eli, eu lembro de tudo e agradeço todos os dias por encontrar a sua literatura e ela mudar a minha vida, já que escrevi sobre Punga e Águas da Cabaça no meu mestrado.
Depois que você desfaz esse presente, o que se apresenta é um livro lindo, com edição impecável. Impactante não só pelas cores, mas pela potência dos versos. Em uma edição bilíngue, em português e inglês, a cada poema e a cada verso nos damos conta do tamanho da magia literária, da bruxaria poética que Elizandra Souza conjura com maestria ao longo das páginas.
Dividido em 5 partes, encontramos 50 poemas e um redemoinho: Poemas de Asé; Poemas de Orí, Poemas de Ifé, Poemas de Oyin e Poemas de Revolução e Redemoinnhos. Trançando resistência, ancestralidade diaspórica, sabedoria dos orixás, contradiscurso, lirismo e denúncia às muitas violências vividas por mulheres pretas, o que Elizandra Souza nos entrega é uma ode à poesia e à necessidade de dizer.
Fechando com um carinho imenso com o leitor, Elizandra nos conta a sua trajetória, nos mostra sua jornada incansável na poesia brasileira contemporânea. Como filha de Iansã que é, nos traz o rosa, a borboleta, as mariposas, os redemoinhos e tempestades para compor um livro que não é só um livro e algo muito maior.
Pra mim, Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta? é uma grande cabaça de vida potência poética que nos convida não apenas à fruição literária, mas à reflexão poética. Que livro lindo.
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Sobre a autora (extraído da livraria africanidades)
Elizandra Souza é
escritora, poeta, editora, jornalista e técnica em Comunicação Visual. É
ativista cultural há 20 anos com ênfase na difusão do jornalismo
cultural da Periferia e da Literatura Negra Feminina. Integrante do
Sarau das Pretas desde 2016. Autora dos livros: Filha do Fogo: 12 contos
de amor e cura (2020), Águas da Cabaça (2012) e Punga co-autoria Akins
Kintê, Edições Toró (2007). Editora dos livros do Coletivo Mjiba:
Pretextos de Mulheres Negras (2013), Terra Fértil (2014) e Literatura
Negra Feminina – Poemas de Sobre (Vivências) (2021). Coorganizadora
Narrativas Pretas – Antologia Poética do Sarau das Pretas (2020).
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