A Cachorra | Pilar Quintana 🇨🇴

Quinta-feira chuvosa e eu estou em Brasília a trabalho. Deixei meu filho em Goiânia com meu companheiro e estou explodindo leite e saudades. Esse post não seria hoje, mas a maternidade tá num pisca-alerta martelando em mim essa semana.

Por isso, resolvi trazer essa resenha de A Cachorra, um livro publicado pela Intrínseca, curto e potente que todo mundo me dizia que eu precisava ler. Não fosse a insistência de tanta gente bacana e sincera para que eu lesse, o nome da autora me despertou curiosidade: era igual ao meu.

Eu e Damaris, a protagonista, dividimos poucas coisas. Eu também fui uma tentante até que engravidei de Ariel, um bebê que perdi pouco antes da pandemia. Um ano depois eu estava grávida de novo. No entanto, Damaris é uma mulher tão comum que, certamente, eu e você já cruzamos com alguém parecida com ela.




E então aparece a possibilidade de adotar uma Cachorra e ela não pensa duas vezes e se agarra a isso como um promessa de vida. Damaris e a Cachorra funcionam como espelhos, duplos que se tocam e se distanciam pelas contradições, diferenças e semelhanças.

Dessa relação, Damaris tem que encarar suas angústias e medos e bem, nem sempre é fácil lidar com o nosso reflexo diante do espelho. Não sei se porque fui mãe recentemente ou porque os animais me despertam o amor mais puro, mas A Cachorra me deu uma porrada no estômago. Impossível não querer abraçar Damaris e me conectar com ela.

Pilar Quintana tem uma escrita muito bonita, o caminho é sinuoso e nem sempre palatável, mas ela encontra um jeito bacana de mostrar as muitas cores e cadências que o romance pede.

É uma leitura que me pegou. Demorou para eu sair dela e me pôs para pensar muito sobre como a nós, mulheres, é exigido amor incondicional, abnegação e perfeição, quando só queremos simplesmente existir.


Temas que adoro estão por aqui escancarando a condição feminina que se encerra nas casas de pessoas simples dessa América Latina.

Entretanto, por algum motivo, A cachorra é pra mim um bom livro, mas não achei excepcional. Acho que eu estava tão envolvida no entusiasmo que, de alguma maneira, queria que o livro correspondesse às minhas expectativas. O final é circular, encerra e abre ciclos, pois não havia outra saída para Damaris. Ainda assim,  me soou um tanto quanto exagerado, mas nada que não me faça ver A cachorra como um livro realmente instigante, que prende o leitor.

Pilar Quintana tem despontado no Brasil com suas obras e tem sido bastante aclamada pelo público. Os avessos que ela expõe aqui são muito bem construídos. É um livro potente, que desloca e vale muito a pena ser lido.

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Sobre a autora:

Pilar Quintana é colombiana de Cali, escritora aclamada e premiada. No Brasil, além de A Cachorra, tem publicado o livro Os abismos, vencedor do Prêmio Alfaguara 2021.  




 

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