Exploração Gabriela Wiener

Quem diria que quando eu pensei em fazer um Mochilão Literário pela América do Sul, inspirada pela Giovana Tavernari e sem sair de casa, eu chegaria tão tão longe. Enquanto programávamos o conteúdo, eu descobri o belíssimo livro Exploração, da Gabriela Wiener, que saiu pela Todavia com tradução de Sérgio Molina.

E não resisti, passei na frente de tudo mesmo como uma boa leonina  com ascendente em áries e lua em aquário que ama simplesmente subverter as coisas.


Gabriela nos leva por uma jornada intensa de autoconhecimento, descobertas e muita sensibilidade. Faz dois movimentos super interessantes e que se relacionam: no primeiro, olha para seu tataravô, Charles Wiener, colonizador que, como todo branco explorador - um huaco -, tem na espoliação de sua terra, o Peru, e dos corpos seu grande feito de uma vida sem grandes feitos.

No outro movimento, a partir da morte do pai, Gabriela singulariza sua existência, tensiona as próprias relações e dinamiza a maneira como vive a partir de sua experiência de poliamor em que é casada com uma mulher branca europeia e um homem chicano.

Assim, olhando para o passado e projetando seu presente e futuro, o livro autobiográfico traz um relato sincero sobre esse lugar de fronteira em que a escritora vive: mulher marrom, segundo ela; latina; bissexual; fora dos padrões; que experimenta uma série de violências de gênero e raça ao mesmo tempo em que traz na sua ginealogia dados daqueles que violentaram historicamente os seus.


Especialmente encantada com a narrativa aparentemente despretensiosa,  Gabriela aparece pra mim como alguém que tensioa os esquemas trazidos, fundados e reafirmados pela colonialidade: as relações de desejo, as violências dos grandes museus ancorados em sangue e roubo, a urgência de se afirmar como uma mulher não branca desejante em uma sociedade que a rejeita.

Exploração é um livro belíssimo sobre o próprio ato de escrever e ainda por cima nos dá uma aula sobre como as perversas relações da branquitude avançam sobre os corpos e subjetividades daqueles a quem tenta dominar. 


A escritora de Sexografias está afiadíssima nesse potente livro que nos abre inúmeras camadas de problematização. Particularmente, me sinto imensamente feliz em chegar ao Peru sob as lentes dessa mulher.

Agora, me sinto pronta para seguir para o Paraguai e encerrar esse Mochilão Literário pelos países hispanohablantes da América do Sul com a sensação de que ainda que as violências que cortam esse continente sejam compartilhadas, a resistência e a luta também o são. E as mulheres, ah, as mulheres latinas estão revolucionando a literatura!


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sobre a escritora:

Gabriela Wiener é peruana de Lima. Poeta, cronista, jornalista e romancista, vivem na Espanha desde 2003. Já esteve no Brasil para a Flip de 2016. Tem publicados por aqui os livros Sexografias (Foz) e Exploração (Todavia) é uma grande expoente da novíssima literatura latino-americana escrita por mulheres.



 

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