De uma sensibilidade incrível, acompanhamos Laura, aos 7 anos, tentando compreender o mundo à sua volta. Aquilo que desmorona, os escombros, as ruínas de um país que lutava para existir, mas que foi atravessado pela perversidade daqueles que simplesmente odeiam a democracia.
E ver essa história pelos olhos de uma criança me deixou profundamente tocada. Na Casa dos coelhos, célula da resistência dos Montoneros - uma importante organização de resistência - , a menina precisa lidar com suas questões individuais que são misturadas por dilemas coletivos muito maiores do que ela.
Como saber se está preparada para a grandiosidade de tudo aquilo? Simplesmente impossível compreender. Acompanhando a rotina dos guerrilheiros, as transformações da casa em que vive e da realidade de La Plata, ela está sozinha em uma infância fraturada.
A escola de meninas que não pode mais ser frequentada, a prisão do pai, a militância da mãe, as amizades impossíveis, tudo ali é sugestão. A casa dos coelhos é um registro potente que conta a história de dentro da história por quem foi testemunha. E eu, como uma emocionada, não consegui conter as lágrimas.
Partindo de um insílio, Laura é uma sobrevivente e a tradução chega até nós em um momento tão importante de compreensão de memórias outras que não as oficiais, essenciais para que não deixemos que o horror se repita.
Articulando o tecido frágil da vida, a escritora, nos mostra momentos cotidianos, simples, mas cruciais para compreensão de uma Argentina arrasada pela ditadura que mesmo assim resistiu e, de alguma forma, Laura resgata pela literatura aqueles que ficaram pelo caminho.
Flanando entre o medo, a esperança e o desejo de compreender o que a cerca, é bonito ver como Laura nos mostra questões marcantes como a composição de Evita Montonera, importante revista de resistência, a menção ao livro Los del 73, a possibilidade do afeto mesmo quando parece impossível e um final apoteótico em que ela, já adulta, consegue olhar para o passado e fazer suas próprias reflexões.
A casa dos coelhos é um convite bonito à pesquisa, ao estranhamento, à elaboração do passado e à vontade de entender melhor as violências que nos atravessam a América Latina. Simples e poderoso, o livro faz parte de uma trilogia e eu mal posso esperar para ler os próximos.
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Sobre a escritora: (retirado da editora Paris de Histórias)
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