A resenha é sobre poesia, mas não qualquer livro de poemas. Na memória do corpo, de Mika Andrade é simplesmente um acontecimento de estrema grandeza.
O livro é um lançamento da Editora Moinhos desse ano e faz uma coisa que eu amo: reconhece o corpo e suas singularidades como espaço de memória por excelência. Conheço a poesia de Mika Andrade faz tempo e sempre me impressiono.
O corpo, grafado desde o título, não é só o da mulher que deseja, que protagoniza, que deságua, faz e se refaz no prazer. É um corpo de texto, de profundo conhecimento da arte da escrita como algo que se materializa.
E isso pra mim é muito singular. Durante muito tempo eu li e estudei que a memória era algo que estava fora e já entendi que ela reverbera em nós com singular resistência. A Mika trouxe isso pra cá. É tanto carinho e cuidado com a palavra que não me restou outra alternativa a não ser sentir esse livro com cada terminação nervosa que existe em mim.
A eu-lírica, tão consciente de si, daquilo que a afeta e mobiliza, relincha, se transmuta, experimenta diversos estados físicos que flanam entre o aquoso, o visceral, o gasoso e a forja em altas temperaturas capaz de rasgar como espada e névoa a palavra do poema e o poema do corpo. Tudo exposto, tudo construído.
O outro, ou outra, que vai se materializando a cada verso precisa dançar em um ritmo compassado, que tem o flow ditado pela poeta. Eu fiquei inebriada e em estado de êxtase com tanta potência.
Mika Andrade nos abre portas e portais da vulva à nuca para mostrar que está com a poesia ainda mais afiada para nos fazer flutuar.
Esse livro simplesmente me arrebatou. Logo eu, tão acostumada a poesias porrada, que falam das nossas dores, das nossas lutas pude me permitir acarinhar por uma poesia que é extremamente transgressora e ousada por permitir o direito ao gozo.
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Sobre a autora:
Mika Andrade é brasileira de Quixeramobim, no Ceará. Poeta, cronista, é uma das artistas que compõem o Pretarau - Sarau das Pretas. Tem publicados os livros Na memória do corpo ª2023), Devoção – poemas reunidos (2021) e Poemas Obsessivos (2021) , organizou a antologia erótica de poetas cearenses O Olho de Lilith (Selo Ferina, 2019) e edita o projeto literário Escritoras CE.
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