Uma chance de continuarmos assim | Taiasmin Ohnmacht 🇧🇷

E se você pudesse viajar no tempo? O que faria? Taiasmin Ohnmacht trança um futuro distópico a um passado pré-pandêmico neste livro delicioso que une um monte de coisas que eu gosto: ficção especulativa, crítica social e uma dose de sarcasmo.

Uma chance de continuarmos assim, publicado esse ano pela Diadorim, traz mulheres pretas no centro da ação. Paula e Marcela são duas cientistas Universidade Federal, uma da Letras e outra da Física . Amantes de Octávia Butler, juntas inventam um jeito  de viajar no tempo, mas o que uma delas encontra não é exatamente o que esperavam.



Taiasmin  Ohnmacht é muito certeira ao mostrar a potência dessas mulheres, a força de suas jornadas. Encontra ainda espaço no livro para abordar os perrengues e fragilidades vividos por mães-solo, a dificuldade de socialização de mulheres que foram constantemente agredidas pelo bullying e o racismo na infância, e deixar em evidência que mesmo em contextos de muita tensão é possível viver o amor.

Ao trazer elementos africanos como a sankofa, o tempo espiralar e um certa noção de encruzilhada, a autora tece com engenhosidade uma crítica dura à colonialidade, aos processos de eugenia e às práticas perversas de espoliação, tortura e encarceramento tão recorrentes no Brasil e na América Latina. 

 


E isso tudo de maneira fluida, num triller instigante que ora acelera, ora desacelera os acontecimentos dando a tônica dos relatos de um jeito muito interessante. Inclusive entender esses processos foi bem importante pra minha leitura.

Nossa heroína Paula nos conta de maneira fragmentária como chegou de volta ao presente, o que viveu e qual é a sua missão. E essa ideia de fragmento é muito poderosa na composição da narrativa. É muito bonito como ela, aos poucos, revela a si e ao leitor que a memória é um bem precioso, inegociável e potente contra qualquer tipo de dominação.

 


É angustiante ver todo empenho de Paula flanando entre a realidade e a loucura, o passado e o devir, mostrando que só mesmo o tempo espiralar, a sabedoria ancestral  podem dar conta de tudo isso que é a ficção cientítica. 

Aliás, essa ideia da ficção científica, especulativa, insólita mostrando que ciência também ocupa um lugar de bruxaria e de magia como intenção me deixou eufórica.  

Num futuro em que será preciso resgatar a poesia, a empatia, e a ideia poderosa de comunidade, a luta por uma possibilidade de mudança é especial e singular. Taiasmin amarra tão bem o texto que o final nos deixa querendo saber mais e mais e mais. E eu sou essa fã muito fã de continuações.  Já estou desejante!

 

Taiasmin, eu te celebro! Que livro bom, gostoso de ler. 


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sobre a autora:

Taiasmin Ohnmacht é brasileira de Porto Alegre. Escritora, psicóloga e psicanalista, vencedora dos prêmios AGES e Açorianos, foi finalista do Jabuti, do São Paulo e Academia Rio-grandense. É autora de Visite o decorado e Vozes de Retratos Íntimos.

 


 

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