Madreselva | Ángela Cuartas 🇨🇴

A querida editora Diadorim me enviou Madreselva, da colombiana Ángela Cuartas. E bem, como falar desse sucesso sem ser piegas? Que doideira, esse é o segundo livro lido recentemente que eu tenho a ligeira impressão, quase certeza, de que a autora está fazendo bruxaria com as palavras.

Ángela, mulher, como faz para não amar teu livro? Madreselva traz 52 contos curtos, alguns muito curtos, e envolventes, que são como encantamento, magia. 


Dispostos em grupos de 7 entrecortados por duplas, na segunda foto da pra entender melhor, como se precisássemos constantemente de fôlego e ar. 

Os textos nos dão pistas de seu transbordamento logo de cara, porque o livro é de um lirismo incrível que perpassa todo seu projeto editorial.

A capa de Maria Williane, a disposição do sumário, a organização dos contos, a cadência e o ritmo estão muito bem assentados para nos dar essa noção de flow, música, em que propositalmente, um texto leva a outro num processo de fiação.


A curadoria desse livro é excepcional, mostrando que as histórias, ainda que separadas, trançam a possibilidade de uma leitura maior. Uma leitura maior que nos é apresentada de forma sensorial. Ou seja tem muita imagem, cheiro e som que se materializam o texto. 

Madreselva é uma constelação de afetos aterrada nas matas, aguada nos rios, que reverbera de forma potente no leitor e volta. Eu realmente não tinha ideia de que era possível escrever de maneira tão lírica, profunda, com tantas camadas de discussão textos tão curtos em prosa.

Da Seiva ao Estuário, os contos se fazem alimento, angústia, delírio e constroem uma atmosfera que flana entre o onírico e a realidade.  Aqui tem muito corpo. O corpo do texto misturado ao corpo da natureza, ao corpo da mulher. 

E não, não tem nada de essencializante ou biologizante, o que estão postas e construídas são metáforas muito bem desenhadas sobre como o corpo processa a vida, a morte, a violência, a memória, a ausência, a presença. E como ele se metamorfoseia para renascer.


A serpente que invade e se instaura como um bicho silencioso pronto pra devorar qualquer coisa que abale o equilíbrio daquela mulher. As muitas mulheres e camadas que se abrem. As lajes flutuantes que abrem a memória. O fim do mundo nada previsível. A vontade para esmiuçar cada fragmento daquilo que aparentemente é comum, mas contem seus segredos íntimos. O mar que deglute, reatualiza e ressignifica tudo à sua volta.

O arco narrativo de Madreselva é uma torrente profícua da expressão dos sentidos e seu desfecho quase me levou às lágrimas. Um livro pra ser lido lento, apreciando a jornada e o aprendizado. Sem pressa. Um livro que nos prepara o tempo inteiro para um grande mergulho.

 

Sobre a autora:

Ángela Cuartas é colombiana de Cali, mas vive no Brasil. Escritora, tradutora e doutoranda em Escrita Criativa na PUCRS e uma das coordenadoras do grupo de estudos em tradução literária e escrita criativa. Autora de Ceiba, tem publicado por aqui os livros Tartaruga, que saiu pela Companhia das Letrinhas e Madreselva, que saiu em pela Diadorim, ambos de 2023.



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