Eu sei que vocês amam terror e o livro de hoje é aclamado pelo mercado independente e um dos queridinhos das minhas amigas góticas: Rinha de Galos. Que baita obra!
Sinceramente, María Fernanda Ampuero já é um dos grandes nomes do gênero e as autoras latino-americanas têm provado que sabem fazer livros de terror com maestria, revelando as muitas camadas da sociedade. Nos
treze contos que se seguem a autora desnuda a crueldade
humana, as muitas violências sociais em uma linguagem crua, sem rodeios,
de fraturas expostas, evidenciando vértebras, músculos, tendões, um
corpo textual que sangra por todos os orifícios. É um livro duro,
pesado, intenso. E talvez exatamente por isso um tipo de terror que me amedronta muito, afinal, pode acontecer.Aliás, a probabilidade é enorme.
Ainda que Leilão seja um dos textos mais comentados da obra, com seu horror, brutalidade e metáforas muito bem construídas para escancarar a vileza humana, nessa rinha de galos em que as peças são expostas no tabuleiro e é preciso sobreviver, foi Luto com suas muitas camadas que me pegou em cheio e se abriu como uma torrente de problematização.
Aliás, eu consigo ver uma linha que se principia nesse conto marcando o livro quase que em duas partes. E, a partir daí, encontrei preciosidades que dialogaram um pouco mais comigo porque o gore, ainda que seja um estilo que gosto, tem tocado em lugares muito sensíveis em mim nos últimos anos. Coro e Outra fecham minha tríade de contos favoritos com críticas cortantes, afiadíssimas e poderosas. Como não odiar Pili e suas amigas? A minha xará é simplesmente insuportável, criminosa e seus atos impossíveis de serem contemporizados.
María Fernanda não poupa nada, o livro é permeado por incestos, assassinatos, estupros com requinte de crueldade, chantagem, racismo, misoginia, jogos de poder que não podem ser varridos para debaixo do tapete. Particularmente, tenho um gosto muito peculiar por livros que me deslocam, desestruturam e não têm receios em tecer críticas à realidade.
Rinha de galos me pegou pela garganta com tanta força que quase nem consegui sentir os pés no chão. Meu corpo
reagiu, e quis colocar tudo pra fora por meio de vômito. E, sinceramente, isso só me comprova o quanto Ampuero é excelente no que faz.
Compreendendo as minhas questões e gatilhos, trago essas reflexões porque eu realmente acho que todas as temáticas são excelentes, mas os muitos tons acima me fazem perguntar se não é a pegada gore ao extremo que me afastou de alguns textos e me colocou num estado de alerta constante. Acredito que sim.
E isso me leva crer que a engenhosidade de María Fernanda Ampuero em escolher contar essas histórias por meio de contos é realmente muito acertada. É impressionante como ela cria tensos, arcos narrativos, acelera e desacelera as ações para criar clímax e suspende o ar tantas vezes.
Digo tudo isso com um consciência profunda da importância deste livro e acredito que faz parte da crítica tensionar essas questões. Saí viva de Rinha de Galos, cheguei ao final pra ver o último conto ser um dos meus favoritos.
María Fernanda Ampuero é, sem sombras de dúvidas, um dos grandes nomes da literatura latino-americana atual.
E essa foi uma experiência que ultrapassou todos os meus limites. Impossível não achar que toda a mobilização física, emocional e literária não seja grandiosa e digna de muitos aplausos. Ficam
os alertas, os cuidados com os gatilhos, mas também o incentivo imenso pela leitura deste livro. Rinha de Galos é muito muito interessante e potente.
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