Cartas para minha mãe não é um livro fácil de ser lido, mas nem por isso não é belo, tocante por toda sua complexidade. A potência com que Teresa Cárdenas, vencedora do prêmio Casa de las Américas com Cachorro Velho, consegue tratar de assuntos tão dolorosos e delicados é impressionante.
Curto, denso, dilacerante, foi lido em 2022 no Leia Mulheres Goiânia com a participação da amiga linda, Carol Casati do Encruzilinhas, traz em suas
páginas a condição feminina atravessada pela dor, pela violência dos
mais diversos formatos e que atinge todas as mulheres da narrativa, não à toa, todas negras.
Em
cartas desejantes e saudosas, acompanhamos a protagonista ainda menina
escrevendo à mãe morta detalhes de sua rotina difícil, dentro de uma
casa sitiada, insegura.
Ela é uma outsider cuja presença, em si, escancara as fraturas experimentadas pela avó, pelas primas e pela tia, evidenciando que nenhuma delas escapa das questões de raça e classe predatórias, são todas em dada maneira vítimas, tentando sobreviver, e, por isso, não conseguem ser gentis e carinhosas entre si.
A narrativa encena movimentos de construção, desconstrução e reconstrução de laços rotos, esgarçados pelas estruturas de poder muitas vezes nem percebidas pelas personagens, mas que se instauram e ditam a tônica da vida, que se faz perversa.
Publicado pela Editora Pallas, Cartas
para minha mãe, trança mulheres complexas e suas feridas, vivendo como
podem. ao colocar o leitor como interlocutor direto dessa menina e dessa
mãe, o torna cúmplice sensível às suas demandas.
É um lugar
muito especial de se estar na narrativa, um fora-dentro que desloca ao
mesmo tempo em que traz pra perto, num curso constante em que a escuta
atenta é primordial para compreender o vivido. Queria mesmo as minhas
mãos nos cabelos dessa menina.
Ainda que não seja uma jornada
fácil, porque é matéria densa o que se descortina, que importante ler
Teresa Cárdenas e conhecer essa história poderosa em que colorismo,
misoginia, racismo e questões de gênero nos são apresentadas.
Obrigada, Teresa, por tanto ensinamento.
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Sobre a autora
Teresa Cárdenas é Cubana de Matanzas. Escritora, roteirista,ativista, bailarina e atriz, foi vencedora do Prêmio Casa de Las Américas em 2005 com Cachorro Velho, que esta publicado no Brasil pela Pallas Editora, assim como Cartas para Minha Mãe, Awon Babá e Mãe Sereia. Contos de Olófi saiu pela Editora Lê. É um dos maiores nomes da literatura latino-americana e caribenha.
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