A Revista Puñado | América Latina


No início do ano teve o Dia da Leitora e do Leitor, mas foi tudo tão corrido que eu não consegui postar. Nunca é tarde para contar um pouco de algumas experiências, então resolvi trazer as minhas impressões como uma leitora amante de revistas literárias.

Particularmente, sou bem apaixonada por esse tipo de conteúdo e curadoria, porque dá pra perceber o quão acurado pode ser e ter um recorte a respeito de alguns assuntos. Revistas como Mafagafo, euOnça, Philos tem um espaço imenso no meu coração. A minha mais nova queridinha, e que tem tudo a ver com a vértebra latina é a Puñado,  que faz um verdadeiro trabalho de guerrilha.

 

 

Quando eu digo trabalho de guerrilha, é muito sério. A Puñado sempre traz contos traduzidos para o português e entrevistas com as autoras latino-americanas e caribenhas - feitas por estudiosas, escritoras, tradutoras ou poetas brasileiras - ou seja, é muita valorização da força e do trabalho das mulheres. Sabemos que o espanhol e, muitas vezes, essas obras, encontram dificuldades em publicação no Brasil em detrimento de outras línguas e nichos, então fazer isso na raça é realmente algo para ser louvado, celebrado e degustado. Parabéns, à Laura Del Rey e toda a equipe da Incompleta. É realmente emocionante.

Com seus 8 exemplares (estou contando aqui os números 6-A e 6-B), essa é uma publicação que é um verdadeiro deleite para os amantes da produção de autoras latino-americanas e caribenhas, já que esse é o foco da Punãdo. Foram 47 autoras (uau) e 23 países contemplados em temáticas que permeiam cada uma das 7 edições: Exílios (1); Delírios (2); Família (3); Rituais (4); Limbo (5); Jornada (6-A e 6-B); Instinto (7). E se a gente ainda pensar que existe Apañado, que é um compilado com alguns dos contos dos outros números, tudo fica ainda mais divertido.

A leitura do número 3 da Puñado foi a escolhida como a segunda do meu 2023. Tudo é tão perfeito aqui, que me falta o ar de tanta emoção. A curadoria da Puñado para escolher os contos, dispô-los e fazer com que tudo funcione como um mosaico de vozes intenso, plural, diverso e especialmente contar uma história de mulheres com vozes de mulheres é realmente instigante.

Dos cinco contos potentes, vemos a dor e o abandono estampados em Água Gelada, de Vera Giocomini (Uruguai). A sempre incrível Giovanna Rivero (Bolívia), com Cachorras e soldadinhos, que viria a publicar, em uma parceira da Incompleta com a Jandaíra, Terra Fresca da Sua Tumba (em breve publico uma resenha sobre esse livro perfeito), 98 segundos sem sombra (que eu ainda preciso ler) e Pra te comer melhor, pela Peabiru. Dahlma llanos Figueroa (Porto Rico) jogando várias verdades na nossa cara com Memórias em Sépia. Andrea Jeftanovic (Chile), antecipando a publicação de um dos contos de Não aceite caramelho de estranhos, que só viria a ser publicado em 2020, com o impressionante conto Até que se apaguem as estrelas.




No entanto, foi Entre a piscina e as gardênias, da haitiana Edwige Danticat, que tem publicado no Brasil o livro Clara da Luz do Mar (quero muito trazer resenha pra cá)- minha deusa, que livro lindo, triste, potente - que me colocou no chão de amor e lágrimas. Que conto intenso, generoso, e eu, como mãe de um bebê que virou estrela e outro que é um arco-íris solar, fiquei absurdamente encantada, transbordando tudo que eu podia e não podia com essa leitura.

Eu acho uma baita generosidade a publicação de revistas literárias. Elas têm o poder imenso de nos trazer pedaços de obras, constelações de afetos que depois nos fazem querer conhecer melhor as autoras, mergulhar em seus universos, navegar por seus livros. Por trazer entrevistas com essas mulheres, a Puñado ainda nos faz um imenso favor de nos conectar, transportar para outros países e realidades da América Latina, conhecendo um pouco mais dessas incríveis escritoras, numa troca genuína de experiência com mulheres brasileiras.

Os volumes 1, 2 e 3 da Puñado foram os meus presentes de aniversário do ano passado. Preciso agora de todos os outros para não apenas ter a coleção completa, mas compreender quais são as possíveis próximas leituras que estão por vir. Quem sabe se não me dou de presente esse ano? Que venham muitos números dessa revista intensa e potente. Emocionante.


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