Kramp | María José Ferrada 🇨🇱

Admito que estou amando esse boom de publicação de autoras chilenas, argentinas e mexicanas que tá rolando no Brasil. Aquece meu coração e facilita demais a pesquisa em Literatura latino-americana escrita por mulheres. Comentava isso com a Taluna Wenceslau, dos canais Mujeres em las artes e Cinema Argentino, e que media comigo o Leia Mulheres Goiânia. Como é bom ver nossas hermanas chegando em prateleiras brasileñas com traduções, muitas vezes, tão bonitas. É preciso dizer que uma grande culpada por eu devorar livros e me acabar é a Editora Moinhos (vamos ovacionar essa curadoria maravilhosa). 

 

 

Li Kramp meio por acaso, tava na minha lista pro futuro, mas veio a Black Friday e pá: esfregou essa obra na minha cara. Li em poucas horas e quando vi já tinha lido de novo. Eu não sou uma pessoa que consegue rir com facilidade e, por fazer roteiros e dar aulas de escrita, também é difícil uma história me surpreender. Kramp chegou para desestruturar tudo que eu achava que sabia sobre escrita e sobre o meu olhar como leitora. 


María José Ferrada tem a maestria de tratar de assuntos densos, como as complexidades das relações humanas, os rastros da ditadura e as fraturas de família, com uma leveza absurda e eu precisava de leveza pra desopilar o fígado. 


Num momento em que a realidade anda dura demais, me permiti simplesmente existir nesse livro. Comecei gargalhando horrores (lembra que eu não vim com o botão do riso?) e terminei com água nos olhos e uma sensação de caramba, que livro lindo! 

 



O mais incrível de Kramp não é somente a leveza e a maneira com que a sensibilidade invade essas páginas, mas como coisas aparentemente muito simples como um catálogo de uma empresa de produtos de serralheria, a tal da Kramp do título, e a vida na estrada acompanhando a rotina de caixeiros-viajantes abrem verdadeiros portais de ensinamento sobre o mundo que nos cerca, de maneira tão avassaladora que nenhuma escola formal seria capaz. 

 

Lições de matemática, filosofia, ciências, sociologia e história. eu poderia fazer uma lista interminável de coisas que é possível aprender com a nossa protagonista. M. narra um período bem curto de sua vida e a cada página conhecemos um pouco de sua relação com D., um pai nada convencional. E bem, perdi meu pai há 5 anos, então esse é um assunto que me pega de cara. 

 

Quando constrói sua heroína, María José Ferrada não subestima o leitor. M. narra suas experiências pela perspectiva da menina que foi, mas o tempo passou e só é possível contar o vivido depois de elaborar o passado. E isso traz um ar de memória, e nostalgia, mas também de verossimilhança na linguagem.  

 

Adoro a ideia de só conhecermos as iniciais das personagens, mas não seus nomes. Poderia passar horas confabulando sobre isso, não caberia no Instagram e talvez nem nesse blog. Por fim, acho interessantíssima a pegada cinematográfica do livro, algo meio noir, com jogos de câmera, cortes e cenas que quase pude materializar na minha frente como se estivesse olhando pelo olho mágico, ou para dentro de um caleidoscópio. 

 



Não é à toa que Kramp foi o livro mais vendido pela Editora Moinhos na Festa do Livro da USP de 2022, eu tou viciada nele. Curiosa demais para ler os outros livros de María José Ferrada publicados em terras brasileiras, como O homem do Outdoor. Estou em um caso de amor con mis hermanas. 

 

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Sobre a autora

María José Ferrada é chilena, escritora e jornalista. Fez mestrado em estudos da Ásia e Pacífico no Universidade de Barcelona (um sonho!). No Brasil, tem publicados Kramp y O homem do outdoor, ambos pela incrível Editora Moinhos

 


 

 


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